A primeira mulher
matemática da história e sua brutal morte, estou falando de Hipatia
a primeira mulher matemática de que se tem conhecimento seguro e detalhado. Era
muito respeitada, mas, em 415 ou 416 depois de Cristo, foi atacada brutalmente
em Alexandria. A foto acima é uma lembrança marcada pela história da morte de
Hipatia de Alexandria, uma ilustração em um livro do século 19.
Esta
é a história de um assassinato envolto em mistério. E o enigma não é quem
cometeu o crime, nem como, mas sim por quê. Em meados do primeiro milênio, uma
mulher erudita foi despedaçada por uma multidão que usou telhas dos telhados e
conchas de ostras para cortar a carne viva do seu corpo.
A vítima
havia sido professora, conferencista, filósofa e matemática. E despertou a
fúria de fundamentalistas cristãos. Era Hipatia, a primeira mulher matemática
de que se tem conhecimento seguro e detalhado
O lugar do
crime foi Alexandria, cidade fundada por Alexandre o Grande, em 331 antes de
Cristo, e que se converteu rapidamente em um centro de cultura e aprendizado no
mundo antigo.
Uma mulher excepcional
Como é comum
ocorrer no caso de personagens da antiguidade, o tempo dissipou muitas
informações sobre Hipatia. Mas, diversas fontes históricas garantem que ela
existiu.
Como poucas
mulheres de sua época, Hipatia pode estudar porque era filha de um homem com
formação educacional: Teón de Alexandria, astrônomo e prolífico autor, que
editou e comentou obras de pensadores como Euclides.
Segundo o
filósofo Damacius, Hipatia excedia muito o conhecimento do seu pai: "Ela
não se contentou com a educação matemática que poderia receber de seu pai. Seu
nobre entusiasmo a conduziu a outras fronteiras da filosofia".
Hipatia
professava a filosofia do neoplatonismo e ensinava essas ideias com mais ênfase
que os seguidores anteriores dessa corrente.
O
historiador grego da antiguidade Sócrates Escolástico concordava que a sabedoria
de Hipatia era excepcional, assim como sua habilidade para falar em público:
"Obteve tais conhecimentos em literatura e ciência, que sobrepassou muito
todos os filósofos de sua época. Explicava os princípios da filosofia aos
ouvintes, muitos dos quais vinham de longe para receber sua instrução".
"Frequentemente,
aparecia em público na presença dos magistrados. E não se sentia envergonhada
de ir a uma assembleia de homens. Pois, devido sua extraordinária dignidade e
virtude, todos os homens a admiravam".
Inventou um novo e mais eficiente método para fazer grandes divisões
O trabalho
de Hipatia era tão importante que ela se converteu na matemática mais
importante de Alexandria - e, por extenção, provavelmente na principal
matemática do mundo.
Há evidências
históricas de que Hipatia fez suas próprias descobertas e inovações. Inventou,
por exemplo, um novo e mais eficiente método para fazer grandes divisões. Não
haviam calculadoras na época, então, qualquer melhora na eficiência era muito
bem vinda.
Além disso,
Hipatia esteve envolvida na criação do atrolábio, uma espécie de calculadora
astromônica que foi usada até o século 19, e o hidroscópio, um aparato para
medir líquido. Nesses casos, Hipatia não foi responsável pela invenção desses
artigos, mas foi consultada para desenhá-los.
Entre pagãos e cristãos
No século 4,
ocorreu uma importante transição no Império Romano: de um Estado totalmente
pagão a um Estado misto pagão e cristão.
Isso gerou
conflitos. E Alexandria, no Egito, estava no centro dessa disputa. Era um lugar
onde pagãos, judeus e cristãos compartilhavam o mesmo espaço.
Foi esse
conflito religioso que decidiu o destino de Hipatia. Para entender o final da
história, é preciso conhecer outros dois personagens históricos: Orestes e
Cirilo.
No século 5,
o prefeito imperial de Alexandria era Orestes, um cristão tolerante com outros
grupos religiosos. Já o bispo da igreja de Alexandria era o patriarca Cirilo,
um homem nada tolerante - uma das primeiras medidas que tomou após assumir o
cargo foi fechar à força um grupo cristão que considerava herege.
Os dois
acabaram travando uma batalha por Alexandria. E é este o contexto do
assassinato de Hipatia.
Uma morte grotesca
Nunca se
soube o quê exatamente motivou o assassinato de Hipatia.
O que se sabe
é que ela era amiga de Orestes. Mas, enquanto ele era um cristão tolerante,
Hipatia era uma mulher pagã. Assim, acredita-se que correram rumores de que
Hipatia seria uma influência maligna para Orestes, impedindo que ele se
convertesse em um "verdadeiro cristão", como era Cirilo.
Fala-se,
inclusive, que os conhecimentos astronômicos de Hipatia podem ter acabado
tensionando ainda mais a situação. Isso porque as observações astronômicas eram
chave para decidir a data da Semana Santa.
E,
conjectura-se, os cálculos de Hipatia teriam assinalado uma data distinta da
que havia sido anunciada por Cirilo, o que colocou a autoridade do bispo em
xeque.
Então, conta
a história, um grupo de cristãos obstruiu o caminho da carruagem de Hipatia
quando ela ia para casa. A retiraram do veículo, a arrastaram até uma igreja e
retiraram sua roupa.
Não se sabe
se ela foi espancada até a morte ou esfolada viva. Os especialistas acreditam
que a segunda hipótese é mais provável. A seguir, despedaçaram seu corpo e o
queimaram, em uma simulação grotesta de um sacrifício animal para um deus
pagão.
Um fim
trágico para uma mulher incrível.
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