Estudante
da FGV foi vítima de racismo em post de outro aluno. Professor do IFSP é
acusado por alunos de postagens ofensivas nas redes sociais.
O estado de São Paulo registra um caso de injúria racial em
estabelecimentos de ensino a cada 5 dias, segundo dados da Secretaria
Estadual da Segurança Pública de São Paulo obtidos pela GloboNews por
meio da Lei de Acesso à Informação.
Entre 2016 e 2017, o estado de São de Paulo registrou 2.873 boletins de
ocorrência de injúria racial. Isso equivale a uma média de 4 casos por
dia. No mesmo período, o estado registrou 142 boletins de ocorrência de
injúria racial ocorridos dentro de estabelecimentos de ensino, o que
representa 1 caso a cada 5 dias. Os estabelecimentos de ensino abrangem
instituições de ensino fundamental, médio e superior.
Em 2016 foram 1.576 boletins de ocorrência de injúria racial, sendo 75
em estabelecimentos de ensino. Em 2017, o número caiu para 1.297
boletins, sendo 67 em escolas ou universidades.
O professor de direito do Instituto Luis Gama, Silvio Almeida, diz que
os números revelam o "aspecto estrutural" do racismo. "Racismo dá o tom
de normalidade das instituições e da vida social em uma sociedade
desigual. Os números não surpreendem porque o Brasil historicamente foi
constituído dessa maneira", afirma.
A única maneira para mudar é tratar o racismo de maneira aberta,
segundo Almeida. Ele diz que é comum que as pessoas vítimas de injúria
racial não se sentir amparadas pelas instituições. "Os números devem ser
muito maiores que esses. Se a violência racial é consciente e
inconsciente, ela tem como caráter o ocultamento."
Para combater o racismo, as instituições precisam se preparar para
implementar práticas antirracistas, criando lugares onde a mediação
possa ser feita. É necessário uma ação política institucional.
Secretaria investiga
A Comissão Especial de Discriminação Racial da Secretaria de Justiça de
São Paulo decidiu investigar dois casos de injúria racial ocorridos em
instituições de ensino da capital paulista nos últimos dias. As
denúncias são contra as pessoas físicas, não contra as instituições onde
os casos ocorreram.
Um deles é a denúncia de alunos do Instituto Federal de São Paulo (IF-SP) divulgada na segunda-feira (12)
acusando um professor por um comentário preconceituoso nas redes
sociais. O outro é contra um aluno de administração pública da FGV-SP
que chamou um colega de “escravo” em uma foto divulgada num grupo de WhatsApp, como o G1 antecipou.
A secretaria já instaurou um inquérito no caso do IF-SP e também deve
investigar, em âmbito administrativo, o ocorrido na FGV. Neste último
caso, o aluno em questão foi suspenso pela própria faculdade por três
meses.
À GloboNews, um porta-voz do IF-SP afirmou desconhecer as postagens do
professor antes de elas ganharem repercussão, e que o caso está sendo
investigado.
“A gravidade dessa conduta é ainda maior [por vir de um professor]”,
disse o secretário estadual de Justiça e Defesa da Cidadania, Márcio
Elias Rosa. “Porque acaba por induzir nos outros alunos um comportamento
que não constitui apenas crime. É odioso desde seu nascimento.”
"No caso da FGV, ainda hoje [13] o aluno ofendido se interessou em
fazer a denúncia e vai ser ouvido", disse o secretário. "Vai apresentar
detalhes que eventualmente ainda não tenham sido apresentados à
sociedade", detalhou.
Márcio Elias Rosa explicou que as sanções possíveis aos dois autores
das ofensas vão desde uma advertência à imposição de uma multa, que vai
de R$ 25 mil a até R$ 75 mil em casos de reincidência. Os inquéritos
ocorrem no âmbito administrativo, não na esfera penal.
Casos
Um aluno da Faculdade Getulio Vargas (FGV), no Centro de São Paulo,
tirou uma foto de outro estudante da mesma instituição e compartilhou em
um grupo de whatsapp com a frase: "Achei esse escravo no fumódromo!
Quem for o dono avisa!”. A vítima registrou boletim de ocorrência por injúria racial e o autor da foto foi suspenso da faculdade por 3 meses.
Em um grupo da GV no Facebook, a vítima conta que foi chamado pela
Coordenação de Administração Pública na terça-feira (6) e informado que
um aluno do 4º semestre do curso de Administração de Empresas
compartilhou a foto com a frase.
Nesta segunda-feira (13), alunos do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de São Paulo denunciaram um professor por um
comentário preconceituoso em redes sociais.
O professor José Guilherme de Almeida, que faz parte do quadro docente
do Instituto Federal de São Paulo fez uma postagem racista no sábado
(10) em suas redes sociais onde afirma ter ódio de negros e pardos,
descreve a alimentação deles como "macabra".
Diz o texto: "Horror de turismo. Odeio pretos e pardos falando muito e
comendo de tudo por muito tempo, em bandos, nos hotéis três estrelas de
orla de praia! Um café da manhã macabro com tanta algazarra e gulodice.
Alguém consegue comer carne de sol logo cedo lotando o prato por 3
vezes? Eles conseguem, todos! Queria ser muito rico e ter o café no meu
quarto sempre nu e escutando Mozart."
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